Por quê Cultura de Paz?
Prof. Dra. Maria Sylvia de Souza Vitalle[1]
A Agenda Global 2030, que é a agenda de Direitos Humanos das Nações Unidas, é formada por 193 Países membros, que assumiram o compromisso de atingir 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas até 2030, no tocante à efetivação dos direitos humanos e promoção do desenvolvimento que incorporam e dão continuidade aos 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. A Agenda 2030 tem caráter universal, indivisível, integrado e e agrega as dimensões economica, social e ambiental. Seu lema central é “Ninguém deixado para trás” e se baseia em cinco principios orientadores (Pessoas, Planeta, Prosperida, Paz e Parcerias – conhecidos como 5Ps).
O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS 16), aborda o tema da construção e manutenção de uma Cultura de Paz e relata que é necessário “promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável”. Para isto é necessário que se garanta, também, que toda as pessoas tenham acesso à justiça e implica no fortalecimento das instituições. Mas como este objetivo acontece na prática?
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, no seu terceiro artigo nos mostra que “todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”. Então, garantir estes direitos, significa promover a transformação de uma cultura de violencia em uma cultura de paz, de tal forma, que esta transformação perpasse por toda as relações e em todos os lugares.
Cultura de paz, quando nos debruçamos sobre seu significado conceitual pode ser difícil de definir, pois surgem questões como: isso é algo concreto, é real? Está distante de nossa realidade ou é fácilmente atingível?
A UNESCO nos brinda com uma definição muito interessante sobre a cultura de paz, trazendo o conceito de que o contexto da paz como cultura permite inovações e o surgimento de ideias para responder ao novo momento em toda as áreas dos saberes, desde os populares até o conhecimento científico. E ainda diz na sua Constituição que “Como as guerras se iniciam nas mentes dos homens, é na mente dos homens que as defesas da paz devem ser construídas”. Portanto, “contribuindo para a paz e a segurança e promovendo a cooperação entre as nações por meio da educação, da ciencia e da cultura, com o fim de favorecer o respeito universal à justiça, ao estado de direito e aos direitos humanos e liberdades fundamentais afirmados aos povos do mundo”. Desta forma a paz e a guerra podem ser alcançados e se referem ao ideal democrático de “que a paz baseada exclusivamente nos arranjos políticos e econômicos dos governos não seria uma paz que pudesse assegurar o apoio sincero, unânime e duradouro dos povos do mundo,e que a paz, para que perdure, deve, por esse motivo, ser fundada sobre a solidariedade moral e intelectual da humanidade”.
A cultura de paz se refere aos valores necessários e essenciais à vida democrática: igualdade, respeito aos direitos humanos, respeito à diversidade cultural, justiça, liberdade, tolerância, diálogo, reconciliação, solidariedade, desenvolvimento e justiça social.
A cultura de paz está relacionada à prevenção e na resolução não violenta dos conflitos. A cultura de paz se refere aos valores necessários e essenciais à vida democrática: igualdade, respeito aos direitos humanos, respeito à diversidade cultural, justiça, liberdade, tolerância, diálogo, reconciliação, solidariedade, desenvolvimento e justiça social. A cultura de paz, portanto, é uma cultura cuja base é a tolerancia e a solidariedade, que respeita todos os direitos individuais, que assegura e sustenta a liberdade de opinião e que se empenha em prevenir conflitos que são ameaça para a paz e para a segurança, como a exclusão, a pobreza extrema e a degradação ambiental. A cultura de paz sustenta que os problemas devem ser enfrentados com o uso do diálogo, da negociação e da mediação, para que as guerras e as violências se tornem inviáveis. Vivemos um período onde a cada día surgem mais e mais conflitos armados, lutas civis, que trazem perdas humanas e sofrimento a milhões de vidas humanas. A degradação do meio ambiente, o excesso de população, a competição por recursos de água doce, a desnutrição, a desigualdade econômica e social assolam muitos países e comunidades, em causados por modelos de desenvolvimento que promovem a concentração de renda e são por si só excludentes. É preciso pensar na construção de um modelo de desenvolvimento abrangente à toda a população e que não seja excludente, que ajude a diminuir as adversidades e acabar com as causas de conflito. É preciso investir em um modelo de desenvolvimento mútuo e sustentável, para se alcançar a paz de forma efetiva e duradoura. É preciso ainda, respeitar os modelos de desenvolvimento de cada país, respeitar cada tradição e toda a diversidade humana e social. Formamos uma rede, onde somos todos unidos, formando um só elemento, por nossa condição humana; todos temos sonhos em que procuramos prosperar e alçancar a felicidade e tudo isso só pode ser desenvolvido em um ambiente de paz, onde possamos promover mais paz e desenvolver todo o nosso potencial humano, deixando como legado um mundo melhor aos que virão.
A cultura de paz será possível, mas somente a longo prazo e com o envolvimento de todos, considerando sempre seu contexto socio histórico político e cultural. Então é da responsabilidade de todos e cada um de nós, desenvolve-la e coloca-la em prática, estejamos aonde estivermos, em lugares de poder, ou como membro da na sociedade local, na familia, na escola, em todos os palcos e territórios onde atuamos. Nenhuma ação é pequena, toda ação é útil e ajudará a compor as modificações indispensáveis para que alcancemos a promoção da cultura de paz, que é uma ação contínua, de longo prazo e de ação cotidiana. Toda pessoa ou organização pode e deve contribuir para transformar uma cultura de violencia para uma de paz, com a promoção de desenvolvimento de valores, comportamentos e atitudes individuais, além da necessidade de envolver também instituições. A educação, portanto, é um pilar que ancora a disseminação e promoção da cultura de paz e deve ser estimulada, entendendo que é um direito do ser humano cuja finalidade é o desenvolvimento pleno da pessoa e de toda sua comunidade e, portanto, de todo o universo humano, pois quando uma pessoa progride, isso alavanca o progresso de todos os demais.
Portanto, é necessário: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. Estes pilares fornecerão as bases para a promoção de uma educação inclusiva e que contribua para uma cultura de paz.
- É Fundamental ter atenção especial para os seis principios do Manifesto de 2020 da UNESCO:
Respeitar a vida; - Rejeitar a violencia;
- Ser generoso;
- Ouvir para comprender;
- Preserva o planeta;
- Redescobrir a solidariedade.
Neste sentido, é obrigatório o envolvimento de nossos adolescentes, para que incorporem nos territórios e espaços que ocupam, com seu protagonismo e sonhos, a promoção de uma cultura de paz.
Então, por quê Cultura de Paz? Para desenvolvermos em nossa plenitude nosso potencial humano, para que as desarmonías (sociais, históricas, culturais, económicas, políticas, ambientais) sejam enfrentadas e solucionadas da melhor maneira possível e para deixarmos, em última análise, um legado melhor para as gerações vindouras.
Sim, nós podemos e é responsabilidade de cada um de nós, instituir a Cultura de Paz!
[1] Vocal Consejo Ejecutivo CODAJIC